Se tem uma coisa que eu não gosto de ser é calorento. Não é foi algo opcional, eu não tive a menor voz ativa nessa escolha, eu simplesmente um dia, cheguei ao mundo assim, suando. Se eu pudesse adentrar o além e dar somente um conselho aqueles que por aqui chegarão, diria para sentirem frio, muito frio. Aqui nesta terra brasilis, onde a temperatura média varia entre muito calor pra calor extremo, os tais calorentos feito eu, sofrem. E muito!
É muito mais fácil sentir frio. Você está em algum lugar e ao sentir frio, prontamente pega o seu casaco - porque há de ter um sol transformando concreto em frigideira, um friorento legítimo sempre tem um casaquinho escondido – e resolve seu problema. Você está indo dormir e está com frio. O que você faz? Pega um lençol, uma colcha, um edredom, um cobertorzinho e no último nível, um daqueles cobertores de lã cheio de fiapos que ao entrar em contato direto com a pele, funciona quase como pó-de-mico, fazendo uma coceira daquelas. Mas e se ao invés de frio, você sente calor? Não há o que fazer de imediato, você precisa de uma série de aparatos técnicos para poder se refrescar.
E o que eu considero pior: você vira refém da coletividade. Até nisso o friorento se dá bem! Porque se você está num ambiente onde a maioria é calorenta, liga-se o ventilador, o friorento põe seu casaquinho e todo mundo fica feliz. Agora, se você está num ambiente em que a maioria é friorenta, as pessoas ao invés de pensarem na coletividade, pensam em si próprios, não querendo que se ligue sequer o ventilador, fazendo com que o friorento ria de orelha a orelha por estar naquela estufa, enquanto o calorento, coitado, sue que nem um bacon na chapa.
E parece que sempre haverá de ser assim: Enquanto um se mata de felicidade com as suas muitas dermes de algodão, resta ao outro suar e esperar sua morte seca e árida.